Você sabia que, apesar da importância da saúde bucal, muitos brasileiros ainda negligenciam os cuidados com os dentes?
Dados recentes do Ministério da Saúde revelam que mais de 20 milhões de brasileiros nunca foram ao dentista e que apenas 63% usam fio de dental, escova e pasta de dente. As pesquisas mostram que quase metade da população só procura um dentista quando sente dor ou tem algum problema evidente.
O Dia Mundial da Saúde Oral, celebrado hoje, 20 de março, nos alerta que cuidar da boca vai muito além da estética: é uma questão de saúde, e que a prevenção ainda é a melhor forma de garantir um sorriso bonito e saudável ao longo da vida.
Para entender melhor esse cenário preocupante e como os problemas dentários não tratados podem levar a complicações graves, conversamos com a especialista Dra. Simone Prada, cirurgiã-dentista e mestre de Ortodontia.
- Dra. Simone, como mudar essa realidade para melhorar a saúde bucal no país?
A saúde pública em geral, inclusive a bucal, passa sempre pela prevenção e pela orientação. Acredito que campanhas públicas são sempre muito bem-vindas. Mas, além disso, o que podemos fazer é semear, dentro do consultório e no relacionamento pessoal que temos e na nossa família, a importância da prevenção.
Costumo dizer que a pessoa que não usa fio dental é como aquela que toma banho, mas nunca lava embaixo do braço! Mesmo a melhor limpeza feita no consultório dentário sempre vai passar pelo uso do fio dental, pelo próprio dentista em seu paciente. Pois, por mais que o especialista utilize artifícios técnicos e aparelhos para fazer uma limpeza, no meio exatamente do dente, no ponto de contato, e região gengival, haverá a necessidade do fio dental.
Uma escovação correta é realmente um alicerce da saúde, uma prevenção essencial. E, sempre, dormir com a boca limpa sem alimentos, porque à noite a gente diminui a saliva. Então, esses cuidados fazem parte de um entendimento que nós, dentistas, podemos ir passando para as pessoas ao redor de nós, e mesmo os que não são dentistas, como é o caso das mães e pais na orientação a seus filhos.
E, se os governos conseguissem também fazer campanhas nesse sentido, isso iria ajudar muito a melhorar esse cenário que as pesquisas mostram.
2. De forma geral, qual é o impacto da saúde bucal na saúde geral?
Quando o dentista olha a boca de um paciente, ele consegue perceber situações sistêmicas. Então, por exemplo, a pessoa que tem diabetes geralmente tem mais perda óssea. A nossa boca reflete nossas patologias.
E se o paciente apresenta uma infecção na boca, com gengivite e cáries, esse quadro infeccioso pode passar para o sangue e instalar, por exemplo, bactérias no coração, na válvula cardíaca.
A boca não é separada do resto do corpo, correto? Então, quando o dentista olha clinicamente um paciente, ele sabe quando está desequilibrado e geralmente vai pedir exames complementares, até para garantir os processos de segurança para uma cirurgia ou outros procedimentos.

Disfunção Temporomandibular (DTM) e mestre de Ortodontia pela USP
3. Você poderia elencar quais as principais doenças de saúde bucal, para crianças, jovens e idosos?
Com os idosos, o principal problema é que hoje em dia, de forma geral, estão tomando muito mais medicações para ansiedade, antidepressivos, remédios para dormir. Então, eles vão ficando sem saliva. Isso significa uma boca mais seca e, por isso, muitas vezes indicamos a saliva artificial, como uma prevenção.
Nesse tipo de paciente é muito comum, também, a perda óssea, que acontece com a idade. E o alicerce maior para segurar todos os nossos dentes é um osso, né? Felizmente, hoje temos muitos recursos para conseguir colocar osso a mais e poder incorporar mais dentes na boca, com os implantes, quando há a perda dos dentes.
Como somos uma clínica multidisciplinar, atendemos todas as idades. Com relação aos bebês, o que se nota é a falta de orientação básica, para as mamães, sobre a posição correta na hora da amamentação, para o melhor desenvolvimento dos músculos da criança, que já começam desde bebê, a forma certinha de respirar, de engolir, porque todos esses detalhes serão importantes para formar a estrutura óssea do rosto e do sorriso, de uma forma harmoniosa.
Com base na minha prática ortodôntica, eu tenho esse ‘lidar’ com a criança e o jovem e priorizo dinâmicas familiares, porque sempre tem os pais envolvidos na parte de higienização e, ainda, da dieta, que também é essencial, com menos açúcar possível.
Com o adolescente, você visualiza se tem alguma coisa que está saindo do padrão, do equilíbrio normal de crescimento, então o dentista consegue agir pontualmente e depois deixa o crescimento acontecer de uma forma natural.
Então, creio que esses são os grandes desafios de tratar crianças e adolescentes, tanto na parte de crescimento, respiração e prevenção de cárie.
4. Se você pudesse dar uma dica ou conselho sobre saúde bucal, qual seria?
O conselho que dou, na parte de saúde bucal, é: nunca desista de você! O seu corpo é seu instrumento de trabalho e sua autoapresentação. Então, esse autocuidado é muito importante porque é um cartão de visita.
Além disso, os dentes também são suporte estético dos seus lábios, do seu perfil, do seu osso harmonioso! A gente pode estar com a melhor roupa, mas o rosto merece também estar bem, pois está sempre exposto.
E o que a gente vê com muita frequência é a dificuldade desse autocuidado, dessa autoestima. Então, nunca desista de você, invista na sua saúde bucal e geral, pois é um dos bens mais preciosos que a gente tem na vida.
A Dra. Simone Prada também é autora de livro. A obra, para pacientes e profissionais de saúde, tem o título “Terapias Não Medicamentosas para DTM (Disfunção Temporomandibular)” – à venda na Amazon.
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